16 janeiro, 2021

Nick Rodwell anuncia livro em resposta às críticas sobre seu trabalho à frente da Moulinsart


Todo mundo que conhece um pouco mais sobre os bastidores de Tintim já deve ter escutado este nome. Nick Rodwell é o administrador da Moulinsart S.A., antiga Fundação Hergé, empresa que gere os direitos da obra do artista belga desde 1987. Casado com a viúva e legatária universal de Hergé, Fanny Vlamynck, o empresário britânico geralmente aparece nos noticiários quando o assunto envolve alguma polêmica, como a proibição de paródias ou a caça a qualquer trabalho (com ou sem fins comerciais) que traga alguma referência retirada dos originais do autor belga.

Agora com 68 anos, Rodwell ressurge na mídia para anunciar o lançamento de um livro sobre sua história no comando da gestão dos direitos de Hergé. Em entrevista à revista Paris Match, o diretor da Moulinsart revelou o título do livro: "Trust but verify" ("Confie, mas verifique"), em inglês mesmo (dizem as más línguas que seu francês ainda é ruim). Ele pretende contar a verdade por trás das polêmicas envolvendo seu nome e assim responder a todos aqueles que o criticam. O artigo revela que continua fora dos planos do empresário lançar um novo Tintim, pelo contrário, no livro, ele vai "contar como fazemos um herói viver durante décadas sem a menor novidade".

Na foto, Nick Rodwell aparece ao lado da filha de Zhang Chongren, amigo de Hergé que inspirou a criação do personagem Tchang. Paris Match, 14/01/2021.

No final do ano passado, Fanny Rodwell, que tem 86 anos, foi diagnosticada com Mal de Alzheimer. Com isso, anunciou sua aposentadoria e renunciou ao posto de presidente do conselho da Moulinsart, passando todo o comando para o marido a partir de 18 de setembro de 2020. A diferença já começou a ser percebida em outubro, quando evidentemente houve uma mudança no comando das mídias sociais da marca Tintin, que deixou de seguir qualquer perfil nas redes e passou a ter mais atividade no site oficial, tintin.com

Um pouco de História

O empresário britânico foi proprietário da primeira Tintin Shop do Reino Unido, e casou-se com a sra. Fanny dez anos após a morte de Hergé, em 1993. Convencido de que Tintim era o equivalente ao "Rolls Royce dos quadrinhos", Rodwell sempre declarou que seu único interesse seria "promover e proteger" o legado de Hergé. Assim, eliminou o excesso de licenciamentos, que na gestão de Alain Baran (secretário do então Studios Hergé, considerado um filho adotivo do artista) fez Tintim estampar brinquedos, roupas e produtos alimentícios, para reorientar o uso da imagem do repórter como algo mais artístico, elevando a obra ao nível de marca de grife... inclusive nos preços.

Foi Rodwell, por exemplo, quem tornou real o desejo de sua esposa de inaugurar um museu totalmente dedicado a Hergé, em 2007. Também foi ele quem retomou o contato com Steven Spielberg por volta dos anos 2000, para finalmente renovar os direitos de adaptação para o cinema - e o empresário promete contar detalhes sobre os bastidores dessas negociações em seu livro. Aliás, vale mencionar que Rodwell não teria feito nenhuma grande exigência para a versão hollywoodiana de Tintim, mas deu liberdade total a Spielberg, como o próprio cineasta deixou claro em 2011: "eles não nos forçaram a fazer uma adaptação literal".

Fanny Rodwel, viúva de Hergé, e seu marido Nick, atual CEO da Moulinsart S.A.

Ao longo dos anos, Rodwell teve alguns embates com artistas, escritores, lojas, museus e jornalistas que criticaram seu método de trabalho. Houve um desgaste até mesmo a Casterman, editora de Tintim há quase 90 anos. Em 1997, durante o Festival de Angoulême, um grupo de tintinólogos, incluindo o comediante Albert Algoud, o crítico de arte Pierre Sterckx e o biógrafo Benoît Peeters, denunciaram publicamente o que chamaram de "abuso de poder". Foi o bastante para entrarem na "lista negra" da Moulinsart, sendo impedidos de acessar os arquivos de Hergé e até de grandes exposições.

Em 2009, o britânico abriu um blog no site oficial de Tintin, com o único propósito de se defender de seus críticos. Mas, foram tantos insultos e ofensas pessoais que a própria Moulinsart o aconselhou a excluir o blog, o que fez com que ele rompesse com parte da imprensa e passasse anos sem dar uma entrevista. Na ocasião do encerramento do blog, meses depois, foi prometido um livro com a mesma temática: a defesa de Nick Rodwell contra seus detratores. Embora o clima ruim tenha amenizado por um tempo, em 2020 ele voltou a o usar o site para se defender, mais uma vez fazendo ataques pessoais, agora ao biógrafo Pierre Assouline, que havia feito duras críticas à sua gestão.

Sobre ser visto como "inimigo público", Rodwell se defende: "A maior parte desse tipo de conversa é vil. Claro que me toca. Ninguém gosta de ser criticado. Aprendi a levar isso muito filosoficamente. Eu ignoro esses ataques. Caso contrário, ainda valeria a pena acordar de manhã? Assim que somos ativos e conquistamos coisas, somos criticados! É inevitável. O importante é o trabalho do Hergé, não eu!"

Nick, como é chamado pelos mais próximos, conta que decidiu "tirar um ano sabático para se dedicar a este projeto". O livro, que está sendo escrito desde 2009, tem lançamento previsto para 2022.

Links recomendados:

Telerama: L'héritage Hergé, c'est Tintin dans le lac aux requins - longa matéria de 2011 sobre as polêmicas envolvendo jornalistas, escritores e tintinólogos ao longo de décadas. A arte que ilustra o início do artigo vem desta matéria.

BD Paradiso: Contrôle de l'oeuvre ou abus de pouvoir? - página de arquivos da conferência de 1997, abordando o que foi chamado de "abuso de poder" sobre a obra de Hergé.

ActuaBD: Nick Rodwell : « Spielberg m’a dit droit dans les yeux : je veux le faire ce film » - uma entrevista com Nick Rodwell na época do lançamento do filme de 2011.

ActuaBD: Moulinsart ferme le blog de Nick Rodwell -em  2000, a Moulinsart anuncia fim do "Nick's blog" e projeto de livro.

Wikipedia: Nick Rodwell - verbete em francês sobre a trajetória do empresário

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