19 julho, 2016

TPT Entrevista: Eric Heuvel, o criador de January Jones

O Brasil é o primeiro país das Américas a receber as aventuras de January Jones. Apesar disso, a obra não é nova: foi criada no final dos anos 1980, e publicada em todos os países da Europa Ocidental - exceto Reino Unido e Itália - e na Espanha (em espanhol e catalão).

A aviadora nasceu no álbum que acaba de chegar em terras tupiniquins, "Corrida Contra a Morte", escrito por Martin Lodevijk e desenhado por Eric Heuvel. O artista já é conhecido pelo leitor do TPT. Há três anos, uma das obras assinadas por Heuvel, Segredo de Família, foi publicada pela Companhia das Letras e ganhou destaque por aqui, chamando atenção pelo estilo de desenho, a linha clara, tão próximo ao que foi eternizado nas criações de Hergé.

Agora, Eric Heuvel conversa com o blog sobre a criação de January Jones, suas inspirações, os bastidores de seu trabalho, o futuro da série, e até dá alguns conselhos para quem tem interesse em ingressar no mercado de quadrinhos. Confira:

TPT: Como você apresentaria a personagem January Jones para quem ainda não a conhece?
EH: January Jones é uma piloto de testes do período entre as duas Guerras Mundiais, período que agora chamamos de Interbellum. Ela é uma prima de Indiana Jones. O roteirista Martin Lodewijk mencionou isso uma vez, afirmando que os meninos da família Jones são apelidados como estados norte-americanos, e as meninas, como meses. Então, talvez vejamos algum dia um Sr. Tex Jones ou uma Srta. April Jones.

TPT: Como se sentiu quando soube que sua obra seria publicada no Brasil?
EH: Eu achei (e ainda acho) INCRÍVEL... Miss Jones cruzou o Atlântico! Claro que eu imediatamente tive fantasias com sessões de autógrafos em algum lugar nos arredores de Copacabana... uma praia com qualidades atraentes.

TPT: Com certeza já houve muitas comparações com Tintim. O que você acha? Hergé realmente influenciou seu trabalho?
EH: É claro que você pode perceber a fonte de onde eu estava bebendo quando abracei 'La Ligne Claire', mas espero ter adicionado alguma característica particular a esse estilo. Ao menos um colega meu disse isso e eu fico muito feliz, porque eu não gostaria de ser um mero copista...

Arte criada por Eric Heuvel. O texto, traduzido pelo TPT, faz uma reverência à obra de Hergé.
TPT: Quais foram suas outras influências artísticas?
EH: Adotei a Linha Clara um pouco tarde. Eu tinha 27-28 anos. Antes, fui influenciado por vários artistas. Na época do ensino médio foram os artistas da MAD, como Mort Drucker e Jack Davis. Mais tarde os realistas (também) me influenciaram; Giraus/Moebius, Juillard, e também mestres como Mezieres.

TPT: Como você já disse, a personagem também teve alguma influência de Indiana Jones. Já pensou na possibilidade de transformar a série em filme?
EH: Eu nunca pensei nisso. Acho que January Jones, como um produto da cultura pop, é um tanto obscura (pouco conhecida) para a indústria cinematográfica fazer algo com ela.

TPT: January Jones é uma mulher em um papel de destaque, o que é não é tão comum como deveria. Ela fuge dos estereótipos clássicos de mocinha em perigo ou "femme fatale", cuja única arma é a sedução. Você acha que ela cumpre bem a função de represente feminina nos quadrinhos?
Eu acho que cabe às feministas decidir. Não havia uma "agenda politicamente correta" na mente de Martin Lodewijk ou na minha quando concebemos esta personagem.

TPT: Quais são as novidades para o futuro da personagem?
EH: Bem, depois de uma pausa de 15 anos, continuamos a série com mais quatro álbuns. Os quatro primeiros fizeram sucesso na Europa e, por causa da pausa (de 1995 a 2000), precisamos conquistar esses países novamente. Nós - quando falo de "nós", quero dizer eu, o roteirista (Martin Lodewijk) e o editor - estamos no meio deste processo.

TPT: Até onde você pretende chegar com January Jones?
EH: Eu gostaria de continuar esta série, desde que os editores queiram. Agora que eu também estou fazendo os roteiros, não há necessidade de se ter uma pausa. A pausa que mencionei ocorreu porque Martin foi consumido por outros projetos e, na época, concordamos que não haveria outro roteirista. Recentemente, Martin reconheceu o fato de que ele está ficando um pouco velho (ele é 21 anos mais velho do que eu) e concordamos com a ideia de que eu vou fazer meus próprios roteiros para Miss Jones.

TPT: Que conselho você daria para alguém que deseja ingressar no mercado de quadrinhos?
EH: Eles devem perceber que os "anos dourados" dos quadrinhos já passaram. Há tantas outras coisas que podem ser um passatempo viciante: jogos, redes sociais, um monte de canais de TV do mundo todo. Quando eu cresci não havia nenhum jogo, na Holanda só havia dois canais de televisão e nada de computador. Quadrinhos eram maiores do que hoje. Assim, note que é uma maneira marginalizada de se expressar como artista/contador de histórias. Uma qualidade muito importante que você precisa ter como um quadrinista é sempre lembrar que você é, em primeiro lugar, um contador de histórias. Só gostar de desenhar não é suficiente. Você deve ser capaz de contar um conto com suas imagens.


EH: Depois de 'chegar' no mundo dos quadrinhos, você terá um grande trabalho; vai ser um estúdio de filmagem em si mesmo... lidando com a produção, a direção de arte, a escolha de locações, documentando, implementando técnicas de câmera, 'contratando' personagens - de secundários a protagonistas, iluminando, escrevendo a história (se você não tiver uma equipe com um roteirista... Eu tenho conhecimento de ambos os lados desta medalha), e assim por diante...

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3 comentários:

  1. Excelente entrevista! Estou curiosa para conhecer a personagem!

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  2. Dicas preciosas! Até anotei a parte em que ele disse que o quadrinista é um contador de histórias! Algo extremamente importante que deve ser lembrado e lavado em consideração a todo o momento! Parabéns pela entrevista! <3

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