12 fevereiro, 2015

TPT Recomenda: Comissário Maigret

Ele nasceu no início do século 20, na Bélgica. Seu primeiro emprego foi ainda jovem, em um jornal local. Na década de 1920, começou a publicar suas primeiras histórias, usando um pseudônimo. Sua principal criação é um personagem que está sempre metido em grandes investigações.

Eu poderia estar falando de Hergé e Tintim, é verdade, mas a coisa muda de figura quando eu digo que esse personagem é um detetive, que ele já estrelou 28 contos e 75 romances, e que, fora a nacionalidade de seu criador, não há grandes semelhanças com o repórter do Le Petit Vigtème... Georges Simenon e seu Comissário Maigret são o assunto em pauta. Saiba por que eles merecem sua atenção.


Chegam às livrarias este mês mais dois livros de Georges Simenon, entre eles "A dançarina do cabaré", da série "Comissário Maigret". O início da publicação da série foi uma das novidades literárias do ano passado da Companhia das Letras, que promete publicar a obra completa de Simenon, o quarto autor francófono mais traduzido do mundo. 10 já foram lançados; ele publicou mais de 400.

Criado por Simenon em 1931, Jules Maigret é um detetive, mais precisamente um comissário da Polícia Judiciária. Sua técnica de investigação baseia-se na observação e compreensão da personalidade dos envolvidos, sempre guiado por seu instinto quase infalível. Apesar de adepto ao cachimbo, não chega a ser um Sherlock Holmes, que por vezes dá ao leitor uma visão mais "mastigada" dos fatos. Maigret esconde o jogo até o limite, causando no leitor a ânsia de devorar mais e mais capítulos de suas breves aventuras (entre 130 e 170 páginas, em média).


Li os três primeiros livros lançados pela Companhia das Letras no país: "Pietr, o letão", "O cavalariço da Providence" e "O enforcado de Saint-Pholien", publicados originalmente em 1931. Com enredos misteriosos e envolventes, os romances vão revelando pouco a pouco quem é o policial, um homem que coloca a profissão à frente de tudo, até mesmo do casamento e da própria saúde. Nem sempre sabemos o que se passa na cabeça de Maigret. O detetive é introspectivo, sério, e não tem muito o que falar, já que trabalha a maior parte do tempo sozinho.

No caso do letão, o primeiro romance estrelado por Maigret, acompanhamos o comissário em uma investigação que começa com um assassinato em um trem até revelar um mestre dos disfarces. A trama retrata basicamente a observação cuidadosa que o policial faz do principal suspeito, de hotéis glamurosos da capital francesa aos mais sombrios bairros europeus. Não há busca de provas ou interrogatórios com suspeitos; é uma mente brilhante tentando se antecipar à outra. Ele só precisa de uma brecha para arrancar a confissão do criminoso.

Já no mistério do cavalariço, o diferencial de Simenon é visto logo no título da obra. O cavalariço da balsa Providence não aparece até boa parte do livro, mas sua presença paira por toda a trama. Maigret investiga o assassinato de Mary Lampson, uma bela e rica mulher encontrada morta em uma cocheira. Os passageiros e tripulantes do iate que ela ocupava nos canais franceses são os principais suspeitos, mas os balseiros vizinhos, incluindo os da Providence, não ficam de fora. Maigret está prestes a descobrir uma teia de mentiras, traições e uma revelação final surpreendente.

O enforcado revela mais sobre o lado humano do comissário quando ele presencia, por acaso, um suicídio. Tendo em mãos os pertences do falecido (uma maleta e um terno velho e com vestígios de sangue), Maigret tem motivos para sentir-se culpado pelo trágico acontecimento. Desta vez não é a obrigação, mas sim o remorso e a curiosidade que levam o policial a investigar os motivos daquele ato. Trabalhando sozinho e correndo vários riscos, Maigret é conduzido à descoberta de uma série de eventos envolvendo suspeitos e vítimas que são facilmente confundidos. 

A obra de Simenon distingue-se da maioria do gênero policial, pois o foco do autor é outro. Ao invés de soltar pistas para que o leitor encontre o vilão, ele deixa a identificação do criminoso em segundo plano para trabalhar no que mais importa: o que motivou aquela pessoa a cometer um crime. Sim, o típico antagonista dos livros de mistério torna-se, nas histórias de Maigret, uma pessoa como nós, com suas complexidades, com uma forte carga psicológica; enfim, um ser humano passível de erros.

Vale destacar a edição impecável da Cia das Letras, tanto no visual como no conteúdo, de revisão exemplar.
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