15 dezembro, 2013

Criações de Hergé: Joana, João e o macaco Simão

Aventuras de Joana, João e do Macaco Simão (Jo, Zette et Jocko) foi uma série publicada por Hergé na revista francesa Cœurs Vaillants pela primeira vez em 1936, e mais tarde em formato álbum, com 54 páginas, pela Casterman. Ao contrário de suas outras obras, a ideia de criar o casal de irmãos e seu mascote primata não partiu de Hergé, mas sim de uma demanda do semanário católico, que pretendia difundir os valores da família de uma forma que o já famoso repórter não poderia - afinal, Tintim não tinha nada que o ligasse a uma vida "normal".

"A série de João e Joana me foi solicitada pelos diretores da revista Cœurs Vaillants", afirmou Hergé em entrevista a Patrice Hamel e Benoît Peeters nos Studios Hergé, em 29 de abril de 1977. "Eles me disseram: 'Nós gostamos de Tintim, mas vamos lá, ele não tem pais, não vai à escola, ele não tem como ganhar a vida. Você não poderia criar uma série do mesmo gênero, mas onde o herói teria um pai e uma mãe e um cãozinho ou um gatinho, etc.?' E foi assim que fui levado a criar Joana, João e o macaco Simão."

A série

João e Joana são dois simpáticos irmãos que andam sempre acompanhados de Simão, um inteligente animal de estimação. Na época, Hergé estava fazendo um trabalho publicitário para uma empresa de brinquedos, por isso tinha vários em casa para se inspirar. Entre eles estava um chimpanzé chamado Jocko, daí a escolha do bichinho. Este, aliás, talvez tenha sido o único atalho para Hergé fugir do convencional, já que ele escolheu dar aos meninos um animal menos clichê que um gato ou cachorro.

Juntos, os três vivem aventuras comparáveis às de Tintim, enfrentando vilões ao redor do mundo, no fundo do mar e até no ar. A grande diferença com o ruivinho é a presença dos pais das crianças, que têm pelo menos uma pequena participação em cada episódio. A mãe é uma dona de casa sempre preocupada com as peripécias das crianças. O pai, James Legrand, é um grande engenheiro, que domina desde o campo da aeronáutica até o da construção de pontes.


Sobre a criação da família Legrand, Hergé explicou a Numa Sadoul, na entrevista que resultou no livro "Tintin et moi": "Foi preciso antes de mais nada arranjar uma profissão para o pai, uma profissão que o fizesse viajar: muito bem, engenheiro serviria bem". O autor também revelou porque heróis com família não são muito viáveis: "Era preciso fazer a família toda viajar: era cansativo!"

Uma característica marcante da série é a comédia, evidente em personagens como Marajá de Gopal ("O Vale das Cobras"), uma figura tão egocêntrica e autoritária que ultrapassa a infantilidade. O leitor também pode ter alguns momentos de riso com as peripécias do esperto macaquinho. O altruísmo, o "fazer o bem sem olhar a quem", é marca registrada da dupla de protagonistas, João e Joana, que não abre mão de ajudar a quem precisa, mesmo que este não mereça.

Publicação

A série estreou na Cœurs Vaillants, revista francesa que já publicava as aventuras de Tintim, em 19 de janeiro de 1936. Era publicada em duas cores: vermelho e branco. Alguns meses depois, chegou ao Le Petit Vingtième. A partir de 1955, começou a ser publicada na revista Tintin francesa, quando foram feitas importantes reformulações no desenho e na coloração das histórias.

As três aventuras de Joana, João e do macaco Simão foram editadas pela Casterman em cinco álbuns. "O Raio Misterioso" foi dividido dois episódios ("O 'Manitoba' não Responde" e "A Erupção do Karamako"), assim como "A Estratonave H. 22" ("O Testamento do Sr. Pump" e "Destino Nova Iorque"). O último título, "O Vale das Cobras", teve colaboração de Jacques Martin, assistente de Hergé, que fez um trabalho bastante caprichado na revisão das ilustrações, deixando o resultado final superior aos anteriores. Em 2012, a Casterman reuniu todos os episódios em um só volume, intitulado "Les Aventures de Jo, Zette e Jocko".

A primeira publicação em português aconteceu em Portugal, na revista Zorro n.º 89, de 20 de julho de 1964. Entre 1981 e 1982, a editora Verbo publicou os cinco álbuns, reeditados mais tarde entre 1997 e 2000. É apenas a essas edições que os falantes da língua portuguesa têm acesso, já que a série nunca chegou a ser publicada no Brasil.

O Fim

O que teria levado Hergé a deixar do projeto, após apenas três aventuras? "Eu nunca fiquei muito à vontade nesta série", afirmou o autor em 1977.  "Na vida, todo mundo tem pais. E os pais naturalmente ficam preocupados se seus filhos resolvem fugir. Pense na frase de Jules Renard: 'Nem toda a gente pode ser órfã'. Que sorte de Tintim, ele é um órfão, tão livre... Por esta razão eu tive que abandonar Joana e João, porque isso me incomodava terrivelmente, os pais chorando o tempo todo à procura de seus filhos em toda parte. Esses personagens não têm a liberdade total que Tintim dispõe".


No início da década de 60, Hergé voltou a se interessar pela série, cujo último álbum, "O Vale das Cobras", havia sido publicado em 1957. Assim, pediu ao seu colaborador Bob de Moor que transformasse o argumento de 'Tintin et le Thermozéro', originalmente concebido por Michel Greg, numa história da série Jo, Zette e Jocko, que se chamaria simplesmente "Le Thermozéro". O projeto não seguiu em frente porque De Moor teve que ajudar Hergé a atualizar o álbum "A Ilha Negra". Depois disso, o pai de Tintim nunca voltou a tocar em Joana, João e o macaco Simão.
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Um comentário:

  1. é sério! os caras que disseram que o Tintim "não tem pais, não vai à escola, ele não tem como ganhar a vida." e 'Nem toda a gente pode ser órfã'. Que sorte de Tintim, ele é um órfão, tão livre..." tava brisando! pq ainda q tintim fosse órfão ele é um adulto! pode ir e vir na hora q quiser! e como assim não tem como ganhar a vida? ele é repórter! já é adulto e por isso nn vai à escola! E eu nn acho q Hergé deveria ter parado de fazer Jo Zette e Jocko! Seria mto leagal se tivessem ouros livros deles!

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