17 janeiro, 2012

Exposição de artista brasileira usa Tintim para discutir os direitos autorais

Treze telas de Denise Araripe ocupam a partir de 16 de janeiro a Galeria Maria de Lourdes Mendes de Almeida, na Universidade Cândido Mendes de Ipanema.

Artista com longa trajetória no Brasil e no exterior, ligada desde 2005 ao Escritório de Arte Ana Beatriz Britto, Denise apresenta ao público um novo tema, inspirado por um polêmico debate. As novas telas revisitam alguns dos personagens mais conhecidos dos quadrinhos em todos os tempos: Tintim e seus companheiros de aventuras – o Capitão Haddock e o cão Milu. São releituras de situações mostradas na série de livros criados a partir de 1929 por Hergé (1907-1983).

Paulo Sérgio Duarte, diretor do Centro Cultural Cândido Mendes, selecionou a mostra: “Denise é uma artista neo-pop. O ressurgimento do pop, com as apropriações que carrega, se dá em um novo contexto, diferente dos deslocamentos de objetos que se dão na sobras de Duchamp e Warhol. Tudo é mais veloz, e essa discussão está na ordem do dia”.


Citação, pastiche, referência, recriação, adaptação, colagem, releitura? Tudo isso e mais um pouco, na discussão das possibilidades contemporâneas de reinterpretação e de reprodução infinita da imagem. E não é acaso que Tintim esteja no centro desta questão: a coleção de personagens encabeçada pelo repórter belga foi alvo de um dos mais rumorosos casos envolvendo o debate em torno da contraposição de direitos autorais e liberdade de expressão, em 2008 – a viúva de Hergé e o marido Nick Rodwel, à frente da Sociedade Moulinsart, detentora do espólio do criador, processaram o artista francês Bob Garcia pela inserção de Tintim em seus livros. Nesse imbróglio, que ganhou ressonância mundial, até fã clubes foram intimados a mudar seus nomes.

Denise Araripe – que vem desenhando sua carreira em ciclos temáticos bem definidos, como o das bonecas, em que discutia o feminino – sempre enovela fortemente seu trabalho visual à reflexão pelo viés cultural. Desta vez, ela mergulha neste debate e apresenta sua versão de Tintim – e nas telas, o próprio personagem, por sua vez, absorve e processa outras referências, em diferentes locais e épocas, de Van Gogh a Louis Vuitton, das Torres Gêmeas em chamas à Merde d’Artiste de Piero Manzoni, de Picasso a Damien Hirst. Numa das telas, a primeira da série, Denise aplicou repetidamente a frase Artigo 47 da Lei 9.610/98 – a decisão brasileira sobre o assunto, a favor da liberdade de uso das imagens - além de apontar outras “aparições” de Tintim, antes e depois da criação de Hergé: um personagem de 1910 e a paródia de Roy Lichenstein, entre outros.

Mais informações: www.deniseararipe.com.br.
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