28 novembro, 2009

A Evolução da Alfa-Arte II

Está no ar a segunda parte do nosso especial, onde você vai poder conhecer um pouco mais sobre as adaptações e diferenças presentes nas principais versões do álbum Tintim e a Alfa-Arte...

Ramo Nash

Em 1988, um artista sob o pseudônimo Ramo Nash publicou sua própria versão de Tintim e a Alfa-Arte. Esta foi a primeira vez que alguém decidiu "completar" o álbum, e isso poucas semanas após a publicação dos esboços originais pela Casterman.

O álbum foi colocado à venda e, em algumas semanas, a versão básica se tornou um objeto raro de se encontrar. Uma edição de "luxo", numerada de 1 a 150, foi reservada para alguns privilegiados. Apesar de trazer papel de alta qualidade e capa em cores vivas, o conteúdo do livro não agradou. Além de gráficos mal feitos, a história decepcionou no quesito originalidade.

Yves Rodier

Em 1991, o desenhista Yves Rodier concluiu sua própria versão do álbum, depois de cinco anos de trabalho. Ele começou ainda jovem, aos 19 anos, mas procurou ser o mais fiel possível ao estilo de Hergé. Na imagem abaixo você confere a arte da primeira capa (e contra-capa) oficial, presentes em 9 exemplares do álbum, de 1992 - o artista substituiu o lema "Hommage" (Homenagem) por "Héritage" (Herança).

Diversas edições do pastiche de Rodier foram publicadas, em preto e branco. O trabalho daquele jovem canadense agradou tanto que ele foi aprovado pelos amigos e colaboradores de Hergé, Edgard P. Jacobs e Bob de Moor. Pouco antes de sua morte, De Moor ainda tentou fazer desta versão parte do cânon oficial de Tintim, e publicar o álbum como "Homenagem a Hergé". Seu desejo era ajustar o pastiche de Rodier, contando com a ajuda de Greg no aprimporamento do roteiro. Mas a ideia não foi aprovada pelos detentores dos direitos autorais de Hergé.

Em 1995, uma livraria belga colocou à venda 25 exemplares piratas do álbum de Rodier, com o selo das Editions Romméo - veja a capa à direita. Cinco anos depois, a versão pirata foi reeditada, contra a vontade de seu autor.

Há alguns anos, a versão de Yves Rodier foi colorida e traduzida para diversos idiomas, como inglês, francês e espanhol. Este é o mesmo álbum que o blog publica semanalmente, trazendo pela primeira vez para o Brasil uma versão recolorida e traduzida para a nossa língua. A nossa adaptação do álbum é feita com base nas versões em inglês e francês, disponíveis na internet.

Apesar de ser uma das melhores versões da Alfa-Arte, pra não dizer a melhor, nunca vamos ter certeza se é assim que Hergé queria que a história fosse, ou se ao menos ele aprovaria a adaptação.

ENSBA

Esta terceira versão é, certamente, a mais rara. Produzida entre 1988 e 1989 por estudantes de Belas Artes de Paris, é a mais avançada graficamente, e só está disponível em CD-ROM. As páginas foram feitas em pranchas de 30 x 25 e digitalizados a 360 dpi em escala de cinza.

Os artistas envolvidos nesta versão decidiram não tentar terminar a história, mas finalizá-la no mesmo ponto onde Hergé parou, na cena em que Tintim é levado para a morte. Esta versão toma o cuidado de explicar que foi produzida por simples prazer, e não com o objetivo de ser mais uma publicação clandestina.

Uma nova edição oficial

Em 2004, a Casterman resolveu lançar uma nova edição do álbum, dessa vez mais caprichada. Com um layout totalmente novo, o álbum traz uma capa dourada e mistura eboços de Hergé com textos e desenhos ampliados para destacar partes da história. O formato é o mesmo dos álbuns tradicionais: um livro de capa dura, com sessenta e duas páginas. Esta versão foi publicada no Brasil em 2008 pela Companhia das Letras.

Uma das novidades da edição de 2004 foi a inclusão de nove páginas, apresentando ideias alternativas para a história. As mais significativas são as seguintes:

.: Uma mudança de estilo de vida para o Capitão Haddock. Apaixonado pela obra de Ramo Nash, ele muda seu estilo de vestir, transforma sua casa, planta maconha e estoca haxixe nos porões de Moulinsart. Tintim e Haddock são presos, sob acusação de tráfico de drogas, e uma investigação é iniciada em Amsterdã.

.: Pintura e narcóticos: Uma grande festa é realizada na embaixada de Sondenésia, com a presença de embaixadores de diversos países, incluindo San Teodoro, Bordúria e Syldavia. O Dr. Krollspell (veja Voo 714 para Sidney) faz uma aparição, como diretor de uma fábrica de açúcar mascavo.

.: O Capitão Haddock sofre de neurastenia, pois já não pode beber uísque. Nesse meio tempo, ele se apaixona pela obra de Ramo Nash. O Prof. Girassol inventa um produto que supostamente permitirá que Haddock volte a beber. Mas quando o remédio é testado, faz o Capitão perder todo o seu cabelo e ganhar manchas no rosto.

.: A possível verdadeira identidade de Endaddine Akass é revelada: Rastapopoulos. Não é algo confirmado, mas especula-se que Hergé realmente queria usar esta ideia.

.: Outra revelação presente nas páginas descobertas é que Endaddine está envolvido com o Emir Ben Kalish Ezab, o que também não fica muito claro.

.: Uma das páginas alternativas traz a imagem de Rastapopoulos - que apareceria entre as páginas 39 e 40.

.: Haddock é convidado para uma exposição de Ramo Nash. Uma série de velhos conhecidos participa, como Dawson (O Lótus Azul), os irmãos Pardal (O Segredo do Licorne) e Carreidas (Voo 714 para Sidney).

.: Uma das páginas mostra uma anotação de Hergé, na verdade uma dúvida, que poderia levar a história um feliz desfecho: 'Tintim só será salvo graças a... Milu? Haddock? Ao professor? A...?' - infelizmente ficamos sem a resposta...

Outras versões

Além das versões listadas acima, existem várias outras, algumas produzidas por fãs, outras por aproveitadores. Algumas delas chegaram a ser publicadas, e entre as mais populares podemos citar os pastiches de Hémo (um dos mais procurados - e caros - em feiras de quadrinhos europeias) e Régric (pseudônimo de Fréderic Legrain), de 1995. Assim como aconteceu com Yves Rodier, o trabalho de Régric agradou aos antigos colaboradores de Hergé, como Bob de Moor.

Veja abaixo algumas versões de Tintim e a Alfa-Arte através de uma vinheta presente na página 3 do álbum e compare com original de Hergé. Apesar de o estilo do criador ser mantido, é visível a diferença no traço de cada artista.

Até um rascunho do mestre supera as cópias finalizadas...

O artista anônimo decepcionou bastante em sua versão "improvisada" da Alfa-Arte.

Já o jovem Rodier conseguiu agradar, criando um final à altura da obra.

Este foi um dos artistas que soube copiar de forma mais precisa o traço de Hergé.

A versão de Hémo é uma das mais procuradas pelos tintinófilos na França e Bélgica.

Esta é a nossa versão, sobre o desenho de Rodier. Publicada aqui semanalmente.

E tem mais...

Na próxima parte do nosso especial, você confere uma entrevista exclusiva que o desenhista Yves Rodier concedeu ao blog. Fique ligado, pois a terceira parte vem mais cedo: é nesta quarta, no único blog brasileiro dedicado à obra de Hergé!

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5 comentários:

  1. A única coisa que eu posso dizer Britto é parabéns! Este especial está simplesmente impecável e excelente! E essa parte de hoje foi ainda mais interessante que a primeira. É ótimo conhecer as diferentes versões de "Tintim e a Alfa-Arte" e comparar o traço de Hergé com os de outros desenhistas.
    Você conseguiu uma entrevista exclusiva com Yves Rodier? Puxa! Demais! Mal posso esperar para ler na quarta-feira.
    Parabéns novamente!

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  2. UAU! O trabalho está realmente excelente! Mil vezes parabéns, Britto!!!
    Quantas partes ainda teremos? Se todas manterem este nível, será maravilhoso.

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  3. Entrevista exclusiva?! Essa eu não perco por nada!
    Preciso ser repetitivo em dar os parabéns ao especial?!

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  4. Por que a quadrinhos na cia não faz versão com o tintim e o carro na capa !?!?!?!?!?!?!?!?!??!?!

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  5. Porque não é uma versão oficial, autorizada pelos editores.

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Fique à vontade para soltar o verbo, marujo!

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