25 fevereiro, 2014

Um novo álbum de Tintim em 2017?

Ocorreu na França em janeiro o 41º Festival de Angoulême, tradicional evento de quadrinhos que reúne clássicos e novidades da banda desenhada europeia e mundial. A edição deste ano contou com a presença de Nick Rodwell, administrador da Moulinsart S.A., que participou de um debate - assistido por mais de duzentos espectadores - sobre a possível nova aventura de Tintim.

Antes de chegar ao que foi dito na conversa, é bom lembrar que no mês de dezembro foi aberto um site para votação do público, cujo resultado já está disponível. A enquete perguntava se o público seria favorável a uma nova aventura, e 67% votaram que Não. Uma outra enquete ousou ao questionar se o público gostaria de ver uma nova personagem feminina no caso de um novo álbum - 75% foram contra a ideia.



O debate

Além de Nick Rodwell, estavam presentes no debate outros especialistas no assunto, como Numa Sadoul, autor do livro-entrevista "Tintin et Moi", Benoît Mouchart, diretor editorial de quadrinhos da Casterman,  e Benoît Peeters, biógrafo de Hergé. O desejo de ver um novo álbum de Tintim foi quase unânime entre as partes.

Numa Sadoul, que ouviu do próprio Hergé, em 1971, que ninguém mais poderia fazer Tintim, pois, ou melhor ou pior, "eles fariam diferente e, portanto, não seria Tintim", é a favor de uma aventura inédita. "Na época que Hergé disse isso (...) ele não estava preocupado com sua sucessão", explicou Sadoul. "Ele não disse 'não, Tintim não continuará depois de mim' (...) Então eu não sei se podemos usar esta citação para refutar ou afirmar que não pode haver eventuais continuações de Tintim".

Numa Sadoul e Nick Rodwell.

Para Benoît Peeters, 38 anos - período desde o lançamento do último álbum completo por Hergé, "Tintim e os Pícaros" - é tempo suficiente para impedir qualquer confusão entre a obra original de Hergé e a possível aventura realizada por novos autores. Peeters acredita que o novo autor não deveria tentar reproduzir a linha clara de Hergé, imitando seu estilo para fazer crer que é simplesmente um 25º álbum. "Seria uma uma farsa", afirmou.

Já Nick Rodwell explicou que o álbum não deve surgir em pouco tempo. "Nós poderíamos começar a projetar em 2048, para estar pronto em 2052 ou 2053, antes do fim do período de 70 anos de proteção de direitos autorais. Eu não vejo porque deveríamos publicar um antes, há uma lei que nos protege", defendeu o atual marido da viúva de Hergé, que também citou 2048 como possível ano de publicação da nova aventura.

Algumas possibilidades

Conforme citado em artigo do Le Soir, Nick Rodwell insinuou que poderia haver uma versão colorida de "No País dos Sovietes", afirmando que "testes de coloração interessantes foram feitos". "Hergé aceitaria isso? Não sabemos", confessou, fazendo em seguida uma comparação: "Estamos em uma situação parecida com a dos estúdios Disney após a morte de seu fundador. Durante dez anos, eles se perguntaram o que Walt teria pensado de seus projetos. Então eles decidiram fazer o que queriam fazer. Trinta anos se passaram desde a morte de Hergé. Colorir os Sovietes pode ser considerado uma evolução natural e que irá agradar à Casterman, editora de Tintim."

Fotos: ActuaBD

Benoît Peeters propôs a finalização de "Tintin et le Thermozéro", álbum inacabado com roteiro assinado por Greg. Hergé chegou a desenhar oito páginas da aventura, mas desistiu por se tratar de uma história muito similar a "O Caso Girassol", além de ter que ficar preso a um enredo desenvolvido por outra pessoa, coisa que nunca fez durante toda sua carreira. "Há várias edições do roteiro, incluindo um reformulado por Greg. Existem alguns textos muito engraçados. Hergé estava planejando fazer Tintim passar por Berlim em plena Guerra Fria. Este é um grande projeto", declarou Peeters.

Peeters  lembrou que seria impossível completar "Tintim e a Afa-Arte", pois o material deixado por Hergé é muito primário. "Não havia sequer storyboard completo", explicou o escritor.

Benoît Mouchart foi além, e sugeriu que André Juillard e Ted Benoit, que trabalharam no renascimento de "Blake et Mortimer", seriam candidatos adequados para ocupar o posto deixado por Hergé e continuar com as aventuras de Tintim.

Álbum digital

Apesar de não deixar claro se haverá um novo álbum, Rodwell comentou uma hipótese levantada sobre um possível lançamento em formato digital: "O contrato de Hergé com a Casterman é referente aos álbuns em papel, não digitais. Portanto, é bem possível ver um álbum no iPad antes de 2054. Mas, novamente, não estamos com pressa", concluiu.

Até o final do Festival, circulava um boato de que um novo álbum seria publicado em 2017, e muitos pareciam favoráveis à ideia. Mas, até aqui, nada do que foi dito deve ser considerado como oficial. Nick Rodwell deixou claro que tudo depende do desejo de sua esposa, Fanny Rodwell, que, como herdeira do espólio de Hergé, tem a palavra final em qualquer assunto relacionado a Tintim. O que fica claro é que, depois do êxito de séries como "Asterix" e "Blake e Mortimer" mesmo sem seus criadores, a Moulinsart abriu os olhos para a mina de ouro pouco explorada que tem no quintal.

O debate pode ser assistido na íntegra neste link.
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2 comentários:

  1. Esses caras são uns mercenários mesmo. Só pensam em dinheiro e não respeitam os desejos do autor.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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