08 janeiro, 2012

Personagens imaginários, desempenhos verdadeiros

Foram necessários dois anos de exaustivas pesquisas, desenvolvimento, desenho, pré-produção, roteirização e escalação de elenco, porém, finalmente, chegava o momento em que os atores, cineastas e mais de 200 técnicos convergiram aos estúdios de captura de movimento, Giant Studios, de Playa Vista, Califórnia, e mergulharam no mundo de Hergé. Aqui é onde teve lugar a grande alquimia, com os comoventes e emocionantes desempenhos de Jamie Bell, Andy Serkis, Daniel Craig e de todo o elenco, com a filmagem live-action que seria completamente transformada em cópias fiéis das imagens em nanquim e aquarela das histórias de Hergé. 


No set, Spielberg constantemente inovava, casando a tecnologia de captura de desempenho com seus instintos narrativos e encorajando sua equipe a pensar em novas soluções para os problemas visuais mais desconcertantes à medida que surgiam. Ele e Jackson acabaram empreendendo uma minirrevolução nessa área com um sistema inovador – chamado de câmera virtual -- que permitia que o diretor tivesse uma relação mais tradicional com os atores e um controle mais imediato do filme, tudo isso enquanto “via” o mundo animado em 3D.

“Eu não queria me privar daqueles momentos instintivos que ocorrem nos sets tradicionais, então, bolamos um outro modo de tornar tudo mais natural”, afirma Spielberg.

Totalmente diferente de um set de filmagem tradicional, o processo de captura de desempenho se passa no chamado “Volume” — um estúdio limpo em branco e cinza, com mais de 100 câmeras montadas numa grade presa ao teto, com uma cobertura de 360 graus, capaz de capturar e renderizar esses dados em um espaço tridimensional. No Volume, todos os atores (e também os adereços em wire-frame e os cenários) usam pontos refletores que são capturados pela câmera em menos de 1/60 segundo e traduzidos num filme virtual em 3D.

Além disso, outras oito câmeras de vídeo de alta definição capturavam as interpretações espontâneas no momento em que ocorriam. Isso serviu mais tarde como referência para os animadores, que garantiram que todas as caretas, sorrisos, arrepios ou nuance de emoção, do medo à amizade, fossem aproveitados na transmutação do desempenho filmado dos atores em uma criação digital.


Spielberg operava a câmera virtual utilizando um dispositivo pouco maior que um controlador de videogame com um monitor acoplado. Dessa forma, podia caminhar por todo o Volume, ver os avatares dos atores enquanto interagiam dentro do universo do filme no seu monitor da câmera virtual e compor os planos que ele queria em tempo real. Os atores também podiam ser a vi mesmos no mundo do filme através dos monitores posicionados por todo o estúdio, permitindo-lhes um feedback instantâneo.

“A possibilidade de assistir ao playback em tempo real foi muito importante tanto para o diretor quanto para os atores”, afirma Joe Letteri. “Isso foi algo que desenvolvemos numa pareceria estreita com o Giant Studios, numa colaboração extremamente bem-sucedida, porque eles entenderam que tudo precisava ser o mais realista possível em todos os momentos”.

Embora a câmera virtual só pudesse oferecer imagens de baixa resolução semelhantes às de um videogame, foi mais do que suficiente para dar asas à imaginação de Spielberg, que entendeu a nova técnica de imediato e pôde pintar com luz e imagem como jamais havia feito antes.


Além disso, uma das primeiras inovações tecnológicas da Weta – o processo conhecido como “imagem baseada na captura do desempenho facial”, utilizada para passar o comovente realismo emocional de Gollum em O Senhor dos Anéis (The Lord of the Rings) e para seres de outros mundos, como as habitantes de Pandora em Avatar, de James Cameron – foi empregada por Spielberg para enriquecer ainda mais as caracterizações de As Aventuras de Tintim (The Adventures of Tintin, The Secret of the Unicorn).

Quando se utiliza esse sistema, os atores usam um capacete parecido com o futebol americano, equipado com uma câmera minúscula que enfoca diretamente o seu rosto, permitindo a gravação digital do menor movimento de reação dos seus olhos, lábios e musculatura facial. Para Spielberg, isso destacava exatamente aquilo que ele queria: a força das interpretações emocionalmente genuínas.

“Cada um dos seres humanos representados em Tintim é um ator que realizou um trabalho de interpretação integral – um desempenho emocional, um desempenho como vilão – e tudo isso resplandece através da maquiagem digital”, comenta o diretor. “Nós vimos os personagens de Hergé renascendo como criaturas vivas que expressam seus sentimentos e desnudam suas almas, e o efeito é assombroso”.

O ator com mais experiência em captura de movimento do que qualquer outro no mundo, Andy Serkis, se tornou o líder do grupo, ajudando os colegas a se aclimatarem. Mesmo com toda a sua experiência neste meio, Serkis se sentiu inspirado pela transformação que via em Spielberg e Jackson enquanto eles trabalhavam juntos. “Foi alucinante ver como eles trocavam ideias criativas o tempo todo”, afirma. “Ambos são apaixonados pelo cinema e em algumas ocasiões parecia que era o primeiro filme que eles faziam, tamanha era a sua energia. Eles sugeriam ideias com uma rapidez que dava até vertigem”.

O longo tempo necessário para todo esse processo também foi algo novo para muitos dos atores. Todas as manhãs, antes de filmar, os atores tinham que se submeter a dois scanners de “amplitude de movimento”, um facial e outro corporal. Uma vez concluído o escaneamento, as câmeras podiam identificar os atores no Volume e traduzir suas ações em um esqueleto em movimento, que seria então recoberto com a “maquiagem” do personagem na pós-produção.

Para Jamie Bell, o Volume parecia mais um teatro minimalista do que um set de cinema, mas esse aspecto, na realidade, segundo ele, contribuiu para realçar o seu trabalho. “É uma forma de trabalho muito interessante, porque o set do filme está na nossa cabeça”, explica Bell. “Estávamos empenhados em dar vida aos personagens, fazer com que respirassem. Depois, no mundo de animação tridimensional que eles criaram, podíamos ver refletidos o nosso coração, nossa alma e nossa raiva. Foi sensacional”.

Bell teve que atuar em cenas com diversas versões de Milu: um Milu montado com arame, um Milu de pelúcia para “cenas arriscadas” e um Milu articulado sobre rodízios – todos operados e transformados em pura interpretação pelo aderecista Brad Elliott, que também trouxe anos de experiência trabalhando com bonecos na produtora de Jim Henson.

“Isso permite que os atores tenham algo com o qual contracenar”, explica Elliot, “e como Milu tem um papel muito importante no filme, para mim, foi um verdadeiro privilégio interpretá-lo”.

Do princípio ao fim, Spielberg cultivou uma atmosfera em que qualquer coisa poderia acontecer no estúdio de captura de desempenho. Em muitas ocasiões, todo o elenco estava no Volume, fazendo cenas de ação, atuando dentro de equipamentos pivotantes que representavam aviões, carros ou navios e improvisando, com o estímulo de Spielberg e Jackson.

Texto: Sony Pictures
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