06 setembro, 2010

Tintim na América


Tintim na América foi o terceiro álbum concebido por Hergé para a série "As Aventuras de Tintim". Assim como os episódios anteriores, a história foi publicada semanalmente no jornalzinho Le Petit Vingtième, de 3 de setembro de 1931 a 20 de outubro de 1932. Pode-se dizer que esta é uma continuação "indireta" da aventura de Tintim no Congo, pois tem ligação com personagens e elementos do álbum anterior. Caracterizado por situações absurdas e inesperadas, este é o álbum que mais evidencia a sorte do personagem principal...

Vale conferir: Especial Tintim no Congo

Sinopse

1931. Depois de enfrentar um bando de gângsters no Congo, Tintim é enviado para Chicago, EUA, para livrar a cidade dos criminosos. Como um "repórter-mirim" fará isso, ninguém sabe, mas conhecendo sua fama internacional, os bandidos começam a se preocupar. A mando de Al Capone, "o rei dos bandidos", o jovem repórter é sequestrado assim que chega ao país mas, desde já, sua sorte começa a agir.


Assim que escapa dos comparsas de Al Capone, Tintim cai numa armadilha de Bobby Smiles, líder do Sindicato dos Gângsters de Chicago. Como não aceita a proposta de se juntar ao grupo para vencer o "rei dos bandidos", o repórter acaba ganhando mais inimigos, e sofre novas tentativas de assassinato. Quando ajuda a polícia a prender um grupo de bandidos, Tintim deixa Smiles escapar. Assim começa uma perseguição que leva o personagem a outro cenário: o velho-oeste americano.


Em RedDog City, Tintim adota um estilo cowboy, pois suas roupas são estranhas demais para os habitantes locais. No território dos peles-vermelhas, o repórter é sequestrado pela tribo dos Pés-Negros, graças a um plano de Bobby Smiles. Depois de causar uma confusão e conseguir escapar dos nativos, Tintim acidentalmente descobre um poço de petróleo, o que atrai a atenção imediata de uma multidão de investidores, gerando um desenvolvimento instantâneo do local. Depois de enfrentar alguns perigos, Tintim finalmente manda Smiles para a cadeia, mas seus problemas estão longe de terminar...


Quando descobre que Milu foi sequestrado, Tintim conhece um detetive pra lá de atrapalhado, que investiga o caso. Mais tarde, é preso injustamente e enfrenta outros vilões perigosos, que fazem de tudo para acabar com sua vida. Apesar de derrotar a todos eles, Tintim não aparece vencendo o maior de todos, Al Capone. Mesmo assim, ao final da aventura, é aclamado por uma multidão nas ruas de Chicago.

Histórico


A aventura de Tintim no Congo já sugeria que o personagem estava pronto para invadir o território americano. O objetivo original de Hergé era escrever um relato sobre a opressão dos índios nos EUA, assunto que sempre o havia fascinado. Ele queria mostrar os cenários de filmes de faroeste, os desertos e pradarias da América do Norte, bem como os cowboys e índios peles-vermelhas. Mas a ideia não agradava tanto ao abade Norbert Wallez, que havia imaginado uma história sobre o sindicato do crime em Chicago, na intenção de ilustrar o quão corrupto os Estados Unidos realmente eram (vale lembrar que  abade era direitista). Dessa forma, Hergé decidiu apresentar em sua aventura outras características da América, como as indústrias modernas, as grandes cidades e, é claro, dos mafiosos.

Assim como acontecera na concepção de "Tintim no País dos Sovietes" e "Tintim no Congo", as fontes de Hergé eram muito limitadas, sem contar que, àquela altura, ele ainda não havia saído da Bélgica. Dessa forma, suas únicas inspirações foram os livros "Scènes de la vie Future" (Cenas da vida Futura), de Georges Duhamel, "L'Histoire des Peaux-Rouges" (A História dos Peles-Vermelhas), de Paul Coze e uma edição especial da revista "Le Crapouillot", falando sobre os Estados Unidos da América.

Hergé começa o álbum seguindo as orientações de Wallez, mas, na tentativa de pôr seus objetivos iniciais em prática, providencia um jeito de levar o repórter para o velho oeste. A cidade, que na edição original se chamava "Redskincity" (Cidade Pele Vermelha, em tradução literal), fica  perto de um acampamento indígena, onde o cartunista aproveita para desenvolver algumas de suas ideias. No entanto, a fim de evitar problemas com Wallez, editor do jornal, Hergé usa os índios para expor a corrupção dos norte-americanos. Faz isso em cenas que mostram os 'brancos' explorando as terras dos nativos, quando descobrem que são uma rica fonte de petróleo.


Outros temas relacionados à realidade americana da época também são retratados no álbum, mas de maneira um tanto superficial. Servem como exemplo o fracasso da Lei Seca (ilustrado por um delegado beberrão), a guerra de gangues (enfatizada pela rivalidade entre os grupos de Al Capone e Bobby Smiles) e a discriminação aos negros (que aparecem sempre como subordinados).

Publicação

Tintim na América foi publicado no Le Petit Vingtième de 3 de setembro de 1931 a 20 de outubro de 1932, duas páginas por semana. Em 1932, foi publicado pela primeira vez como álbum, em preto-e-branco, pelas Éditions du Petit Vingtième. Em 1941 começou a primeira atualização do álbum, inicialmente com a finalidade de publicação em um jornal holandês, Het laatste Nieuws. Mas a primeira edição colorida só saiu em 1945, quando Hergé redesenhou a história, assim como havia feito com o álbum anterior, alterando o número de páginas para 62, o padrão de seus livros. A publicação saiu pela editora francesa Casterman.

Como no caso de Tintim no Congo, a versão a cores do foi beneficiada pelos progressos que a prática e a experiência já haviam dado a Hergé. Na nova versão, publicada em 1946, foram feitas várias melhorias na linguagem visual, que tornaram a leitura mais fluente e compreensível. Desta aventura em diante, o domínio da arte que o cartunista alcançou fazia as imagens falam por si mismas, sem depender tanto do texto.

O primeiro país a traduzir o álbum para outra língua foi Portugal - que aliás foi o primeiro a publicar uma obra de Hergé fora do eixo franco-belga. Em 16 de abril de 1936, a revista infantil "O Papagaio" começou a publicação da história, com o título "As Aventuras de Tim-Tim na América do Norte". Com essa empreitada, Portugal entrou para a história como o primeiro país a publicar uma aventura de Tintim traduzida e a cores. Clique na imagem abaixo e veja a primeira página: 



Um dos países que mais resistiu à publicação da aventura foram os Estados Unidos. Encontrar um editor para  o álbum na terra em que ele era ambientado foi uma tarefa praticamente impossível. Na próxima parte, descubra as modificações que Hergé teve de fazer para conseguir enviar Tintim para a verdadeira América...

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5 comentários:

  1. A crítica aos EUA foi tão forte a ponto de criar essa resistência? Pelo que eu vi, houve até uma suavização; na realidade, a questão das máfias e da discriminação racial eram bem fortes naquele país. Nada mais natural que virassem história, como de fato aconteceu.

    Parabéns pela pesquisa, não deve ter sido nada fácil. Está muito muito legal. Abração!

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  2. Já começou o especial com o pé direito, Britto. Muita boa esta parte.

    Fazia idéia de que a história de "Tintim na América" era bem movimentada, mas não imaginava que era tanto.

    No aguardo da próxima parte e curioso para descobrir as modificações feitas por Hergé para a aceitação do álbum nos EUA.

    Até mais.

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  3. Muito bom o resumo de "Tintim na América"!
    Parabéns Pedro, continua assim que é este tipo de coisas que todos os fãs de Tintim deveriam ler! =)

    Um abração
    Fred

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  4. adorei o livro!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  5. Pessoalmente , gosto de histórias onde viajantes chegam em uma terra nova e desconhecida cheia de possibilidades de aventuras como "Tintim na América" . Quando tiver a oportunidade , comprarei o álbum com certeza .

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