03 julho, 2010

Tintim discrimina os deficientes mentais?

Depois de ser acusada de trazer mensagens ofensivas para os negros, as mulheres e os judeus, a obra de Hergé acaba de ganhar mais um rótulo. Um grupo de psiquiatras espanhóis aproveitou o tumulto causado pelas críticas à suposta presença do racismo nos álbuns de Tintim para denunciar a existência de preconceitos sociais em relação aos deficientes mentais.

"Todo mundo tem atacado Hergé por racista, machista ou cruel com os animais, mas ninguém se pronunciou contra a forma desfavorável na qual ele descreve os doentes mentais, o que dá uma idéia de quão disseminado é o preconceito contra este grupo", diz o psiquiatra Juan Medrano (foto). Na última quarta-feira, 30/06, o especialista apresentou as conclusões de seu trabalho numa conferência de psiquiatras, junto com os colegas José Uriarte e Pablo Malo, e constatou que nas aventuras do jovem repórter há constantes referências depreciativas aos doentes mentais. "Em 'Os Charutos do Faraó', por exemplo, Tintim passeia por um sanatório onde os pacientes são retratados de acordo com os estereótipos mais negativos, enquanto em 'O Lótus Azul' aparece um personagem com problemas psiquiátricos empenhado em decapitar seus pais".

O alcoolismo também tem seu papel na dose de álbuns de Tintim. Seu melhor amigo e companheiro de aventuras, o Capitão Haddock, abusa frequentemente do uísque e em aventuras como "Tintim e os Pícaros", há bebedeiras coletivas que só terminam com ao nascer do sol. Como se isso não bastasse, o único médico que aparece na obra de Hergé, o Dr. Müller, é um psiquiatra que não se sai muito bem. "Em toda a obra de Hergé há uma visão negativa da deficiência mental que corresponde aos valores dominantes de sua época", diz Medrano, que afirma que esta visão não é exclusiva do desenhista de quadrinhos belga. "Se encontram coisas tão negativas, ou piores ainda, em episódios de Asterix, Mortadelo e Salaminho ou Lucky Lucke".

O psiquiatra não pretende acertar as contas com o Tintim, que afinal é apenas um produto dos tempos em que viveu seu autor. "Não queremos criticar os artistas, mas sim analisar suas obras como exponentes de certas atitudes sociais. Nos surpreende que haja pessoas mais dispostas a defender os direitos dos animais do que a considerar a maneira em que se descreveu às crianças europeias há 80 anos atrás como são os deficientes mentais".

Analisar à luz dos valores atuais obras concebidas em outros tempos é um exercício inútil que transforma Hergé em alvo de todos os tipos de críticas. Educado sob severos princípios religiosos, Georges Remi publicou seus primeiros trabalhos em um jornal ultraconservador. Foi nestas páginas que nasceu "Tintim no País dos Sovietes", que satirizava os bolcheviques. Sua segunda aventura, "Tintim no Congo", é a que desperta mais furor, por trazer uma visão considerada "colonialista". Na próxima semana, dando início às comemorações de seus dois anos de vida, o blog trará um especial completo sobre esta polêmica obra. Fique ligado!

Com informações do site El Diario Montanes.
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