10 janeiro, 2010

Tintim no País dos Sovietes

As Aventuras de Tintim, Repórter do Le Petit Vingtième, No País dos Sovietes é o título da aventura que deu origem a um dos personagens mais queridos da história dos quadrinhos. Escrita e desenhada pelo belga Hergé, a história foi originalmente publicada entre 10 de janeiro de 1929 e 8 de Maio de 1930, no suplemento infanto-juvenil Le Petit Vingtième. Nesta primeira aventura, Tintim, já ao lado do inseparável Milu, é apresentado como um jovem e corajoso repórter em viagem à Rússia comunista.

Vale conferir: Especial Tintim no Congo

Sinopse

Tintim, um repórter do Le Petit Vingtième, e seu cachorro Milu, são enviados em missão para a União Soviética. Partindo de Bruxelas, seu trem explode a caminho de Moscou por um agente secreto da polícia soviética, a OGPU. Ele sobrevive, mas é acusado pelas autoridades de Berlim pelo "acidente".

Preso e levado para uma câmara de tortura, Tintim consegue escapar e roubar um carro, passando por várias aventuras até finalmente chegar a Moscou. Entre outros absurdos, Tintim observa uma eleição onde as pessoas são obrigadas a votar no partido comunista, descobre que as fábricas supostamente produtivas são apenas uma farsa dos sovietes, e que as autoridades do país maltratam crianças famintas.

Preso por ajudar as vítimas da ditadura, ele consegue escapar mais uma vez e se depara com as riquezas que Stalin, Lenin e Trotsky roubam do povo soviético (incluindo trigo, vodka e caviar). Na tentativa de fugir da Rússia e denunciar aquelas barbaridades, Tintim enfrenta por uma última vez os agentes da OGPU. Finalmente retornando à Bélgica, o destemido repórter é recebido com grande pompa pelo público, que o aguarda na Grand Place de Bruxelas.

Histórico

Em 1928, Hergé, então editor-chefe do Petit Vingtième, já pensava em criar um novo personagem de quadrinhos. A oportunidade surgiu quando Norbert Wallez, diretor do jornal, lhe encomendou uma história que envolvesse um adolescente e um cachorro. Wallez, um padre de ideologia direitista, queria um personagem que pudesse mostrar aos jovens belgas a situação da URSS e denunciar os males do comunismo. Hergé idealizou um repórter que viajaria para fazer suas matérias, e decidiu: "Para sua primeira viagem, a coisa que me pareceu mais importante na época era o país cujos ecos terríveis e muitas vezes contraditórios chegavam até nós, que era a Rússia soviética".

Nos primeiros dias de janeiro de 1929, o Vingtième Siècle publicou a ilustração de um jovem muito parecido com o já conhecido Totor, vestindo calças de golfe quadriculadas e acompanhado por um fox-terrier. No fundo, a silhueta de uma construção russa, e na legenda, a seguinte mensagem: “Acompanhem, a partir da próxima quinta-feira, as extraordinárias aventuras de Tintim, o repórter, e do seu cachorro, Milu, no País dos Sovietes”.

Poucos dias depois, em 10 de janeiro de 1929, começou a ser publicada a primeira de muitas aventuras do repórter Tintim e seu fiel cãozinho Milu. A cada semana o jornal publicava duas páginas, gerando uma história de 69 episódios.

A HQ fez tanto sucessos entre jovens e adultos da Bélgica que, para marcar sua conclusão, em 8 de Maio de 1930, o Petit Vingtième preparou um grande evento.

O jornal contratou Lucien Pepermans, um escoteiro de 15 anos, para representar a chegada do repórter a Bruxelas, e convidou os leitores por meio de um anúncio a comparecerem na Gare du Nord, às 16 horas.

A "chegada" de Tintim contou com uma grande multidão de fãs, além da presença de Hergé, que se reuniram no local anunciado para receber o herói que havia mostrado toda a “verdade” sobre o “milagre soviético”. A cena foi incluída no álbum, lançado naquele mesmo ano.

Propaganda Anticomunista

Os soviéticos tentavam passar para o mundo fora da Rússia uma imagem de potência em constante crescimento econômico - e de fato o era, segundo historiadores. Desmentir este fato se tornou um alvo particular de Hergé. Mas, como o desenhista nunca teve a oportunidade de visitar o país - e àquela altura não havia nenhuma possibilidade de fazer isso -, ele teve de se basear em informações de terceiros. Segundo Benoît Peeters, a única referência utilizada por Hergé foi o livro Moscou sans voiles (1928, Moscou sem véu, em livre tradução) de Joseph Douillet, ex-cônsul belga que viveu e trabalhou durante nove anos na Rússia soviética.


No livro, Douillet ataca duramente o comunismo e o governo soviético, e esse mesmo espírito crítico acaba ficando evidente no álbum. Sem outras fontes à disposição, Hergé chegou a reproduzir passagens inteiras do livro, como a cena das "eleições democráticas", onde os habitantes de uma aldeia são coagidos pelos soldados armados a votar no partido comunista.


Dica: para saber mais sobre a propaganda anticomunista no primeiro álbum de Tintim, leia o artigo "Pardieiro infecto": a representação da Rússia em Tintim no País dos Sovietes, clicando aqui.

Estilo

As primeiras imagens mostram um Tintim diferente do que estamos acostumados hoje - na primeira página, por exemplo, o repórter não tem nem mesmo seu famoso topete. Contudo, o design do personagem é refinado durante a aventura, bem como sua personalidade. O texto de Hergé também é bastante primário, carecendo de fontes precisas e detalhes mais realísticos - que se tornariam comuns em sus obras posteriores. Ele mesmo afirmou, mais tarde, que havia sido muito ingênuo nessa história.

Por causa do tipo de publicação (duas páginas por semana), a história é basicamente uma série mini-aventuras, intercaladas com as denúncias do totalitarismo soviético. Ao final de cada página, Tintim está sempre em perigo, a fim de manter o suspense para a próxima. A cada semana, portanto, o trabalho de Hergé consistia em livrar Tintim do perigo anterior e iventar um novo.

Publicação

Tintim no País dos Sovietes foi publicado pela primeira vez como álbum em 1930. Apesar do sucesso, a insatisfação de Hergé com os detalhes negativos da obra o levou a retirá-la de circulação na década de 1930. Nos anos 1950, o autor continuava sem nenhum interesse na re-publicação do álbum, mas a editora Casterman o pressionou a autorizar novas reedições, para fazer frente às edições piratas que estavam surgindo. Só depois de muitos anos após a morte do autor, o álbum voltou a ser publicado orgulhosamente como o número um da coleção de Tintim.

Em 1973, foi lançada, como parte de Les Archives d'Hergé, uma edição fac-símile, que imediatamente se tornou um best-seller (100.000 exemplares vendidos só naquele ano). Já em 1999, no 70º aniversário da obra, a Casterman, com autorização da Fundação Hergé, publicou o álbum em preto e branco. Dessa forma, mesmo contra a vontade do já falecido Hergé, No País dos Sovietes entrou de vez no cânon oficial de Tintim.

Curiosidades

.: Tintim no País dos Sovietes foi o único álbum de Hergé (excluindo Tintim e a Alfa-Arte) que não ganhou uma nova versão, em cores.

.: Neste álbum Tintim aparece pela primeira e única vez escrevendo um artigo de jornal. Veja a cena aqui.

.: Este é o primeiro dos três únicos álbuns onde Tintim aparece bêbado - os outros são O Caranguejo das Tenazes de Ouro e O Ídolo Roubado.

.: Vários personagens, em sua maioria anônimos, participam da história. Mas, além de Tintim e Milu, nenhum outro aparece nos demais álbuns do personagem.

.: Entre os poucos personagens secundários que têm seus nomes citados, estão:
.:: Dimitrieff Solowztenxopztzki: Junto com um colega, ele tenta afundar o barco de Tintim, na página 53;

.:: Lulitzosoff: É o homem que captura Tintim na página 93;

.:: Rodrobertine: Apenas o nome é citado, mas sabe-se que é um aviador, visto que Tintim é confundido com ele quando está disfarçado de piloto.
.: O álbum até hoje não foi publicado na Rússia, devido ao conteúdo considerado “anticomunista”. Por este mesmo motivo, 'No País dos Sovietes' também nunca chegou às mãos dos leitores chineses.

.: O êxito desta primeira aventura fará com que Tintim vá depois ao Congo, mas essa já é uma outra história...

Contém informações dos sites Wikipedia, Publico e Tintinology.

Veja também outros especiais:
Tintim na América
Os Charutos do Faraó
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10 comentários:

  1. Muito interessante, Britto. É ótimo saber mais sobre a primeira aventura de Tintim que com certeza ficou na história. Fiquei surpreso com o fato de que as publicações das páginas no Petit Vingtième se estendiam por quase um ano e meio (de 10 de janeiro de 1929 e 8 de Maio de 1930). Devia ser ótimo acompanhar a aventura a cada semana e ficar com a sensação de suspense pelas próximas páginas. Gostei também das curiosidades em que Tintim escreve um artigo e aparece bêbado. Achei engraçado o fato de Milu também aparentar estar bêbado ("Hic... Hic..." é uma evidência disso, não?). E a representação da chegada de Tintim à Bruxelas também me chamou atenção.
    Parabéns a Tintim e Milu pelos 81 anos de vida. Com certeza a trajetória deles é eterna.

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  2. Excelentes informações, Britto. E numa data mais que apropriada!

    Li aquele artigo em pdf todinho e achei bem interessante também. Hergé refletiu perfeitamente no álbum o conceito que a sociedade europeia (incluindo ele mesmo) tinha a respeito dos soviéticos. É uma estória cheia de preconceitos, mas gosto de lê-la justamente para rir de seus exageros!

    E não posso esquecer: Parabéns Tintim e Milu. Desejo que esse sucesso se prolonge por muitas e muitas gerações!

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  3. Muito bom mesmo!
    Ainda não tenho o álbum, mas já vi algumas páginas. Com certeza é um dos mais polêmicos de Hergé, só perdendo para Tintim no Congo. E provavelmente por isso ele não quis reeditá-lo, já que praticamente teria que refazer a história toda...

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  4. Estou afim de comprar albuns do Tintim e achei esse blog um achado,para descobrir o personagem e o que o rodeia.
    Adoraria posts abordando o suposto conteúdo racista presente em alguns trabalhos,e também algo sobre o lado politicamente incorreto, digamos a parte negra do Tintim :)

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  5. Nossa, muito bom esse blog.
    Comecei a ler Tintin semana passada. Só conhecia pelo desenho que passava na TV Cultura. Sempre gosto de procurar informações das coisas que leio, assisto etc., e seu blog tem muita coisa legal sobre o primeiro álbum.
    Estou nas primeiras páginas de Tintin no Congo e já pude perceber o grande preconceito de Hergé. Mas Tintin sempre será um clássico.
    Até mais.

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  6. Parabéns pelo conteudo do blog.Para ficar mais perfeito ainda, seria podermos baixar as aventuras de Tintim em PDF, para que nossos filhos pudessem acompanhar essa coletânia Maravilhosa.Caso interesse, tenho a coletânia completa das aventuras de Asterix e Obelix.
    Parabéns, caro colega, pelo belo Blog.
    Wagner de Almeida Posso.
    Paz@zipmail.com.br

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  7. Viva,

    Podem encontrar alguns albuns do TinTim, Asterix e Lucky Luke aqui:

    http://tralhasvarias.blogspot.com

    Byes!

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  8. Esse blog é excelente! Super completo e bem pesquisado, parabéns mesmo! E ainda por cima é um blog brasileiro dedicado ao Tintin, deu até orgulho ;)

    Tomei a liberdade de usar parte do texto (com os devidos créditos e link) no meu blog no qual estou publicando os pdfs das aventuras de Tintin http://chacunsachimere.blogspot.com/2011/04/samedi-tintin-tintin-au-pays-des.html Também indiquei o site para os meus leitores e coloquei nos favoritos do blog.

    PS> A versão pdf do "Tintin au pays des soviets" que eu estou disponibilizando no meu blog é colorida. Foi uma edição especial feita na época da queda da URSS. A tiragem só foi de 2000 exemplares.

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  9. Obrigado pelos elogios e pela citação, Josi. Vou recomendar seu link para os membros do fórum Tintim por Tintim.
    Se ainda não conhece, o endereço é www.tintimportintim.forumbrasil.net

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  10. Outros álbuns de Tintim também ganharão especiais ?

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Fique à vontade para soltar o verbo, marujo!

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